EDITORIAL – 25 DE NOVEMBRO | violência política que tenta calar mulheres na Paraíba


No Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, é impossível ignorar uma face silenciosa, mas devastadora, desse problema: a violência política de gênero, que se impõe nos bastidores, nos microfones, nos plenários e nos corredores do poder. Na Zona da Mata paraibana, esse fenômeno tem rostos e histórias que revelam o custo real de ser mulher em um ambiente dominado por estruturas ainda profundamente masculinas.

Há pelo menos uma década, Daniella Martins, ex-vereadora de Caldas Brandão (PB), convive com um cenário que ultrapassa a disputa política. O que se instalou contra ela ganhou contornos de perseguição sistemática — uma sequência de tentativas de desmoralização, isolamento e desgaste emocional. Para além das diferenças de opinião, o que se vê é um ambiente de extremismo direcionado, alimentado por figuras que se julgam acima de qualquer limite ético e transformam divergências em instrumentos de terror psicológico.

Foto: Reprodução Instagram 

Esse mesmo mecanismo de controle aparece, de forma emblemática, na trajetória da atual prefeita de Mari (PB), Lucinha da Saúde. Sua ascensão foi conduzida por um líder político autoritário que acreditava poder moldar sua carreira conforme seus interesses. Controlá-la, dirigir suas decisões e ditar seus passos fazia parte de um projeto que esbarrou na força de uma mulher que se recusou a cumprir o papel submisso que lhe foi reservado. Mãe, avó e gestora, Lucinha tem enfrentado, desde então, tentativas persistentes de deslegitimação — ataques que carregam o peso simbólico de uma estrutura que, quando não consegue dominar uma mulher, tenta destruí-la.

Foto: Reprodução Google 

No rádio, a resistência feminina também é diária. Mayara Paiva, única mulher no jornalismo radiofônico de Mari, convive com pressões que vão além da crítica ao trabalho. Questionamentos, intimidações veladas e ataques gratuitos fazem parte da tentativa constante de esvaziar sua credibilidade apenas porque sua voz ocupa um espaço que muitos ainda acreditam não ser dela. É a velha lógica de silenciamento, reciclada para a arena midiática.

Foto: Reprodução Instagram 

E em Sapé, a vereadora Terezinha do Peixe, única parlamentar de oposição na Câmara Municipal, enfrenta o peso de uma posição solitária em um ambiente descrito como hostil. Mesmo não sendo a única mulher na Casa, Terezinha carrega um fardo particular: o de ser a voz dissidente em meio a um plenário majoritariamente governista, onde a divergência traz, com frequência, reações desproporcionais, interrupções, deslegitimações e tentativas de enquadramento. O isolamento político, somado a episódios de tratamento ríspido e pouco institucional, revela uma dinâmica de poder que busca sufocar a presença feminina quando ela contraria interesses dominantes.

Foto: Reprodução Instagram 

Esses casos, distintos entre si, convergem para uma mesma constatação: a violência contra a mulher na política e na mídia é estrutural. Ela se manifesta em ataques à honra, boicotes internos, manipulação emocional, intimidação pública e privadas, além do uso da máquina política para desgastar, isolar ou silenciar mulheres que ousam exercer liderança.

Neste 25 de novembro, a Paraíba é lembrada de que eliminar a violência contra a mulher não é apenas enfrentar agressões domésticas e abusos explícitos. É também expor e combater a violência política, que corrói democracias por dentro e tenta expulsar mulheres dos espaços de poder que conquistaram com esforço, preparo e resiliência.

Quando uma mulher permanece na política, apesar de tudo, ela não resiste sozinha.
Ela abre caminho para todas as outras.


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