EDITORIAL | O governo Lucinha da Saúde chega ao fim antes do tempo
O governo Lucinha da Saúde entrou em colapso. Com menos de seis meses de gestão, a prefeita de Mari (PB) já está encurralada por denúncias de abuso de poder econômico, delação de empresário local envolvendo diretamente sua campanha, atrasos nos pagamentos e sinais claros de descontrole nas finanças públicas. Um cenário de desorganização crescente, que expõe a fragilidade de uma administração sem planejamento, sem liderança e cada vez mais isolada politicamente.
A situação mais dramática vem da saúde financeira do município. Atrasos salariais já são ventilados nos bastidores e o temor de que a prefeitura sequer consiga honrar a folha de pagamento tornou-se real. Ao mesmo tempo, denúncias de irregularidades em contratos milionários acendem o alerta máximo. A licitação de combustíveis, com cifras elevadas, está aparentemente suspensa após denúncia formal ao Ministério Público da Paraíba. Já na saúde, o cenário é ainda mais grave: o desabastecimento de medicamentos levou a prefeitura a acionar judicialmente uma empresa que venceu três licitações – que somadas ultrapassam R$ 1,5 milhão. E causa estranheza uma licitação de mais de meio milhão de reais para a compra de itens como carimbos e blocos de anotação pela Secretaria de Saúde, em meio a um setor em colapso.
Enquanto isso, equipamentos fundamentais, como o novo aparelho de raio-X do Hospital Municipal Sagrado Coração de Jesus, sequer saíram das caixas. O castramóvel – adquirido com recursos públicos – segue abandonado à própria sorte, exposto ao sol e à chuva, como símbolo do desprezo da gestão pelo planejamento e pela eficiência. Obras básicas também não avançam. A rodoviária municipal está há cinco meses com reparos prometidos e não entregues. Nada anda. A máquina pública trava. E a população sente no dia a dia o peso de uma gestão paralisada.
No campo político, o esfacelamento é evidente. A prefeita Lucinha rompeu com seu principal fiador político, o ex-prefeito Antônio Gomes, mas tenta esconder esse fato do eleitorado. Seu chefe de gabinete, Acássio Barra, é acusado pelo ex-vereador Paulo Pipoco de articular a produção de fake news contra o próprio Antônio. Um governo que conspira contra seu criador revela o grau de desorganização e deslealdade que reina nos bastidores do poder em Mari.
Em meio à crise, a prefeita opta pelo silêncio. Se recusa a dar entrevistas, evita audiências públicas e limita sua atuação a publicações nas redes sociais, como se governar fosse postar no Instagram. É uma gestora ausente, blindada, terceirizada – cujo protagonismo, cada vez mais, pertence ao seu chefe de gabinete.
A verdade é que a prefeita Lucinha da Saúde perdeu o controle da gestão, da narrativa e da política. O governo afundou em escândalos, perdeu credibilidade e já não tem comando. A sensação nas ruas, nas rodas políticas e até entre os aliados é a de que este governo acabou.
Mesmo que não seja cassada, a prefeita já não governa mais. Vive à sombra de Acássio Barra – o verdadeiro gestor informal da cidade e o principal pivô burocrático da crise que corrói a atual administração.
Mari está à deriva. E a responsabilidade tem nome.