Dois anos do furo que expôs o empréstimo de R$ 87 milhões e colocou Mari (PB) no debate nacional
Foto: Reprodução Polêmica Paraíba/Ex-prefeito Antônio Gomes
Há dois anos, num exato 23 de novembro, uma reportagem alterou a dinâmica política de Mari, na Zona da Mata paraibana. O furo que revelou a tentativa do então prefeito Antônio Gomes de contratar um empréstimo de R$ 87 milhões junto ao BNDES — valor muito acima da capacidade fiscal do município — tornou-se referência do jornalismo investigativo local e ganhou repercussão nacional.
A descoberta partiu do extinto Mari Notícias, embrião do que hoje é o Paraíba 2.0. A apuração mostrou que a gestão buscava autorização da Câmara Municipal sem estudos técnicos, sem garantias reais, sem planilhas de custos, sem cronogramas, e com obras descritas de maneira genérica. Mesmo assim, os vereadores aprovaram o projeto em ritmo acelerado.
A denúncia desencadeou reação imediata e ampliou o debate sobre responsabilidade fiscal em cidades de pequeno porte. O episódio atraiu atenção de especialistas e veículos nacionais, que classificaram a operação como temerária. Diante das inconsistências, o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba emitiu uma medida cautelar, suspendendo momentaneamente o avanço do processo.
O furo consolidou os pilares que o tornaram histórico:
• o valor desproporcional do empréstimo;
• a falta de transparência;
• o risco de endividamento prolongado;
• a aprovação acelerada;
• a repercussão nacional;
• a atuação decisiva do jornalismo independente.
Dois anos depois, aquele 23 de novembro segue como o dia em que uma reportagem combateu, de forma decisiva, uma operação que poderia ter levado Mari a uma catástrofe fiscal. Em 2023, não houve como impedir a aprovação política do empréstimo, mas a denúncia desmontou a narrativa oficial, expôs a fragilidade da operação e conteve um endividamento que hoje teria efeitos tão graves quanto o atual rombo de R$ 63 milhões no MariPrev, a previdência municipal. O furo permanece como referência porque mostrou, de forma concreta, que fiscalização, método e jornalismo independente conseguem frear decisões que ameaçam o futuro financeiro de toda uma cidade.