Contrato único do agronegócio leva 90% do Plano Safra em Caldas Brandão (PB); folha inchada da prefeitura tem 494 servidores

Foto: Reprodução Google/Brejo News 

Com 5.928 habitantes estimados em 2024, um distrito único e economia artesanal, o município de Caldas Brandão, na Paraíba, exibe uma contradição profunda: enquanto a máquina pública é robusta e cheia de vínculos precários, a agricultura familiar, que poderia ser alternativa de desenvolvimento, registra retração alarmante.

494 servidores ativos garantem uma proporção de um servidor para cada 12 moradores. Mas 59,1% desses vínculos não são por concurso, sendo compostos por comissionados e contratos temporários. Apenas 45,9% são efetivos.

A prefeitura está sob a liderança de Fábio Rolim Peixoto, que cumpre seu segundo mandato e integra um grupo familiar que se mantém no poder local há décadas. 

Assistência social domina a economia local

A economia de Caldas Brandão se sustenta quase exclusivamente pela assistência federal. Cerca de 4.540 pessoas — aproximadamente 76% da população — estão inscritas no Cadastro Único.

Em junho de 2025, 1.500 famílias receberam o Bolsa Família, com benefício médio de R$ 665,18. Outras 664 famílias foram contempladas com o Auxílio Gás — quase 88% delas chefiadas por mulheres. No primeiro semestre de 2025, os benefícios sociais somaram R$ 7,3 milhões transferidos aos moradores.


Ao mesmo tempo, o município recebeu R$ 16,3 milhões em repasses federais (janeiro/junho). A dependência dessas verbas realça a frágil capacidade local de gerar renda própria.

Agricultura familiar perde força, alternativa se esvai

A agricultura familiar, que tradicionalmente poderia oferecer emprego e escape à dependência pública, está em declínio. Dos R$ 2,61 milhões em crédito rural contratados via Plano Safra, R$ 2,34 milhões (90%) foram destinados a um único contrato do agronegócio.

Enquanto isso, a agricultura familiar garantiu apenas R$ 272 mil em 24 contratos do PRONAF — um montante pouco significativo frente ao seu potencial local.


Piora ainda ocorre com a ausência do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que até março de 2025 não realizou nenhuma compra de produtos locais para alimentação institucional, rompendo um elo vital entre campo e comunidade escolar.

Dos 152 agricultores familiares com cadastro ativo, apenas 10 possuem DAP, enquanto 142 estão apenas com o CAF, evidenciando dificuldade de acesso facilitado ao crédito.

Um modelo em crise

O cenário traça um modelo de gestão baseado em três eixos: folha de pagamento inchada, assistência social como sustento da renda das famílias e setor produtivo rural abandonado. O campo, que poderia ser uma válvula de escape econômica, está enfraquecido por políticas públicas insuficientes.

A repetição de poder por grupos tradicionais, sem renovação institucional, agrava a estagnação silenciosa de Caldas Brandão — revelada não apenas pelos números, mas pela ausência de perspectivas reais de desenvolvimento.

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