Editorial – Do prestígio à fritura: a travessia amarga de um secretário em Mari (PB)
Foto: Reprodução Google/Site Institucional da Prefeitura de Mari
A política municipal, embora muitas vezes subestimada diante do jogo dos grandes centros, revela com nitidez o vaivém das lealdades, das narrativas e, por vezes, das ingratidões. Um exemplo eloquente disso se observa no município de Mari, na figura do secretário de Desenvolvimento Econômico e Agrário, Severino Ramo do Nascimento.
Com um portfólio robusto de atribuições — que vai do fomento à indústria e comércio, passando pela qualificação profissional, geração de renda, até políticas de sustentabilidade ambiental e apoio à agricultura familiar — a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Agrário é, sem sombra de dúvida, um dos pilares estratégicos de qualquer gestão comprometida com o progresso. E é nesta pasta que Severino Ramo deixou sua digital por oito anos no governo do ex-prefeito Antônio Gomes, tendo sido mantido na atual gestão de Lucinha da Saúde, o que à época soou como um reconhecimento de competência e continuidade institucional.
Entretanto, o que era prestígio parece hoje ter se transformado em ostracismo planejado. O secretário, elogiado publicamente pela prefeita em momentos anteriores, agora amarga o papel de "patinho feio" entre alas do próprio governo. Há sinais claros de um movimento orquestrado — discreto, mas corrosivo — que visa minar sua permanência. Severino, que já foi exaltado como técnico de confiança, passou a ser alvo de questionamentos sussurrados e "críticas vazias" nos bastidores, encabeçadas por radicais que orbitam o núcleo mais ruidoso do governo.
A fritura política que se desenha é reveladora não apenas da instabilidade interna, mas de uma gestão que, ao ceder à pressão de grupos, arrisca comprometer sua própria coerência. Demitir um secretário por razões técnicas é um ato de gestão. Demitir por conveniência política ou por ciumeiras de bastidores é sinal de fraqueza administrativa.
Severino Ramo não é figura decorativa. À frente de uma secretaria vital, tem em seu escopo o desafio de articular desenvolvimento, organizar dados, fomentar a economia local, apoiar o homem do campo e zelar pelo meio ambiente. Não há luxo em sua função — há responsabilidade. Sua eventual saída, nestes termos, soaria menos como reorganização estratégica e mais como rendição à lógica mesquinha do fogo amigo.
A prefeita Lucinha da Saúde, diante de um governo que enfrenta cobranças públicas, ruídos internos e desgaste acumulado, precisa decidir se seguirá refém dos radicais ou se manterá o pulso firme necessário para evitar que seu mandato seja pautado por vaidades e pressões de bastidores.
Porque, ao que tudo indica, Lucinha não está apenas cercada por aliados — está cercada por estrategistas de conveniência. E isso exige cautela. O risco de estar sendo manipulada não pode ser tratado com desdém. Governar é também saber distinguir conselhos de interesses, aliados de oportunistas, coerência de cálculo eleitoral.
O bom governo se faz com firmeza, diálogo e reconhecimento. E, sobretudo, com coragem para proteger quem entrega resultados — mesmo quando isso desagrada aos que gritam mais alto.