EDITORIAL | Câmara de Mari: um time de pelada que se encontra aos domingos
Foto: Reprodução Instagram/Via Câmara Municipal de Mari
No início de 2025, a Câmara Municipal de Mari parecia disposta a mostrar força. O chamado “G6” — grupo de seis vereadores que se posicionava como linha de frente da fiscalização — surgiu como um contraponto barulhento ao Executivo. Ainda na terceira sessão do ano, chegou a colocar a prefeita Lucinha da Saúde contra a parede, com ameaças veladas de abertura de processo de cassação.
Três secretários municipais foram intimados a prestar esclarecimentos — decisão ousada, tomada em menos de três meses de gestão da prefeita Lucinha. Um gesto que parecia sinalizar o início de um mandato legislativo vigilante. Mas tudo mudou rápido demais. As convocações desapareceram do debate, e a sociedade sequer foi informada das razões do recuo. O silêncio se impôs. O G6, outrora barulhentos, hoje parecem dissolvidos. Não há mais sinais de resistência organizada. A Câmara, por completo, optou por um clima de boa vizinhança.
Sessões legislativas se tornaram vitrines de cordialidade, com discursos mornos, sorrisos fáceis e um ambiente mais festivo que político. A rendição foi selada sem alarde — e o prejuízo é da população, que agora observa um Legislativo que pouco ou nada cobra, que ignora denúncias e que transforma a função de fiscalizador em ato figurativo.
Não houve qualquer manifestação da Casa sobre o caso de uma servidora identificada como assessora no quadro de pessoal, mas sem serviços reconhecidos pela comunidade — e que, segundo relatos, sequer dá expediente para Câmara. Tampouco se viu questionamento sobre os mais de R$ 6 mil pagos em publicidade institucional pela Câmara a um CNPJ criado em janeiro de 2025, sem qualquer presença comprovada em meios de comunicação, seja na internet, rádio ou audiovisual.
Quem fiscaliza os fiscais? A pergunta ganha peso diante da apatia instalada. A Câmara, que começou o ano com discursos de leões, hoje se comporta como um clube de gatinhos de gabinete. Abandonou o ímpeto, esqueceu o papel fiscalizador e assumiu uma rotina de discursos protocolares para justificar salários e regalias.
É preciso dizer com clareza: a cidade de Mari está, neste momento, sem oposição visível no Legislativo. E isso é grave. Sem contraponto político, o Executivo governa sem freios, sem incômodo, sem vigilância. A democracia local enfraquece, e o cidadão comum fica à margem de um jogo institucional cada vez mais fechado em si.
Se ainda há algum senso de responsabilidade na Câmara Municipal de Mari, é hora de acordar. O mandato não é decoração. Fiscalizar é obrigação. O dinheiro é público. O povo observa — e cobra, mesmo quando não é ouvido.